O Governo do Estado, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Social e Família (Sedef) e da Polícia Militar do Paraná (PMPR), promove capacitação de policiais sobre como proceder em ocorrências que envolvam pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Desde o início do projeto, em julho de 2022, somente em Curitiba e Região Metropolitana mais de 650 militares estaduais já receberam o treinamento, além dos profissionais em formação nos núcleos do Interior do Estado.
“Atuamos com foco no atendimento de qualidade à comunidade. Essas palestras traduzem a determinação de governo estadual de nos manter atentos aos anseios da população e atendimento de grupos sociais mais vulneráveis”, diz o secretário do Desenvolvimento Social e Família, Rogério Carboni.
A capacitação dos profissionais surgiu da necessidade identificada pelo Comando da Polícia Militar do Paraná, que constituiu uma comissão para estudar o tema e apresentar um trabalho com os procedimentos a serem observados pelos policiais durante uma abordagem.
Ao final, esse trabalho passou por uma análise da Coordenadoria das Políticas Estaduais da Pessoa com Deficiência, da Sedef e, junto com o major Valter Ribeiro da Silva, pai de um menino autista, o projeto foi iniciado. “Tivemos alguns relatos de familiares preocupados em como os filhos reagiriam caso fossem abordados, visto que cada um possui especificidades e poderiam ter reação parecida com desobediência à ordem policial. Sabíamos da experiência do major Valter e, em parceria com a ONG Onda Autismo, fizemos essa sinergia”, contou Felipe Braga Cortes, coordenador das Políticas Estaduais da Pessoa com Deficiência.
Uma Nota de Instrução da PMPR, de 1º de julho de 2022, deu início ao processo de difusão e capacitação dos policiais militares de todo o Paraná. “A iniciativa conta com o apoio de entidades e profissionais especialistas no tema, a exemplo de Fábio Cordeiro, presidente da Onda Autismo”, explica o major.
VIVÊNCIA – Para o presidente da ONG Onda Autismo, Fábio Cordeiro, que ministra as palestras, elas são essenciais não apenas pelo conhecimento, mas até mesmo pela vivência, já que o próprio palestrante é autista. “Não podemos pensar em política pública ou em ações sobre as pessoas com deficiência sem incluí-las nesse processo. Eu, como autista, tenho a oportunidade de levar vivências que, às vezes, uma pessoa que não convive dentro do espectro do autismo não teria como colocar”, explica ele.
“A visão de uma pessoa autista, apenas o autista pode trazer. Eu trago não apenas a minha visão nessas palestras, mas também a da convivência que tenho com milhares de autistas com os quais me relaciono pelo Brasil”, afirma. O Governo do Estado foi muito feliz em convidar e envolver pessoas com TEA para esse processo, tanto de dentro da força policial como de fora. Daí o sucesso da ação e o feedback positivo que estamos tendo. Estamos construindo uma força realmente mais inclusiva”, enfatiza.
Segundo ele, há aumento de diagnósticos de autismo no mundo e também no Brasil, em função do avanço em informações sobre o transtorno, mais profissionais qualificados e critérios de diagnósticos melhor definidos. “Esse novo cenário tem de ser levado em conta em todos os serviços públicos. Vejo como de extrema importância que a Polícia do Paraná tenha essa atitude de treinar seus integrantes para abordarem de maneira respeitosa às características da deficiência e entendendo um pouco da condição.”
O documento, elaborado com base na legislação e nos princípios constitucionais, especialmente aqueles relacionados à dignidade da pessoa humana, estabelece os procedimentos que devem ser observados pelos policiais militares. Confira:
- Falar pausadamente, de forma clara e objetiva, evitar gírias e formular frases curtas, e, se necessário, repetir as informações;
- Falar baixo, sem gritar;
- Utilizar estímulos visuais para reforçar o que está sendo expressado verbalmente;
- Os autistas podem ou não ser verbais, porém o fato de ele não falar, não significa que ele não esteja entendendo. Por isso, sempre tente estabelecer algum tipo de comunicação, seja por gestos ou piscar de olhos;
- Caso saiba, chame o autista pelo nome dele;
- Ouça os pais/responsáveis. Eles conhecem o autista melhor do que ninguém;
- Utilize os pais/responsáveis como “ligação” com a pessoa autista para que essa colabore, tanto quanto possível, na abordagem/atendimento;
- Acolha e compreenda as aflições dos pais/responsáveis durante a abordagem/atendimento;
- A pessoa com TEA pode apresentar sensibilidades tátil, auditiva e visual, por isso, evite movimentos bruscos e contato físico e reduza ou desligue as sirenes e giroflex.
Foto: Valter Ribeiro da Silva