O que já era bom está ficando cada vez melhor. Ter o melhor cenário no Brasil para o ensino da língua inglesa aos jovens da rede pública não acomodou a Secretaria da Educação do Paraná, que seguiu investindo e introduzindo novas ferramentas, recursos e experiências para melhorar o processo de ensino-aprendizagem da língua estrangeira, englobando professores e estudantes de toda a rede estadual de ensino.
O investimento e a evolução introduzidas pelo Governo do Estado fazem do ensino do inglês nas escolas estaduais personagem da série Paraná, o Brasil que dá certo.
Já no fim de 2019, o Paraná foi destaque em um estudo feito pelo British Council, organização internacional do Reino Unido para relações culturais e oportunidades educacionais. Intitulada “Políticas Públicas para o Ensino do Inglês – Um panorama das experiências na rede pública brasileira”, a pesquisa foi organizada em cinco dimensões: currículo; perfil docente e regime de trabalho; formação de professores; parcerias e programas de apoio para o ensino de inglês e avaliação e monitoramento.
A análise de sete indicadores dentro dessas áreas indicou que a rede paranaense tinha o melhor nível de estruturação e de consolidação das políticas públicas voltadas para o ensino do inglês entre todos os estados brasileiros, com 19 dos 21 pontos possíveis. Ao lado de Sergipe, o Paraná foi apontado como o estado com a maior proporção de docentes com nível superior (98,7%) e também um dos dois com mais de 70% do quadro de docentes habilitados em língua inglesa ou língua estrangeira moderna.
De lá para cá, muita coisa aconteceu, inclusive o fechamento das escolas por um ano e meio por causa da pandemia, mas o planejamento pedagógico não parou e assim que a situação epidemiológica normalizou, várias iniciativas foram colocadas em prática, como novos materiais didáticos, testes de proficiência e uma plataforma de apoio ao ensino.
INGLÊS PARANÁ – A plataforma Inglês Paraná, lançada em setembro de 2021, por exemplo, oferece um curso on-line completo de língua inglesa, com 16 níveis, seguindo o Quadro Comum Europeu de Referências para Línguas (CEFR), contemplando habilidades da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e objetivos de aprendizagem previstos para cada etapa do currículo.
A plataforma é autoinstrutiva, ou seja, o estudante pode, quando quiser, acessar o conteúdo e realizar as atividades; pode ser acessada nos modos on-line e off-line, além de contemplar todos os níveis de proficiência – desde o básico até o avançado – em escrita, leitura, produção e compreensão oral.
Cada atividade na plataforma equivale a cerca de 20 exercícios (de vocabulário, gramática, conversação e expressões). Ao todo, ao longo do ano passado, mais de 850 mil estudantes acessaram a plataforma e passaram 6,7 milhões de horas estudando nela – 21,5 mil deles conseguiram avançar um nível na escala CEFR (três na plataforma) e 1.648 “zeraram” a plataforma, ou seja, concluíram o 16º nível e alcançaram o nível C2 do CEFR, qualificação mais avançada que comprova comunicação no mais alto nível de domínio do idioma.
“A Secretaria de Educação tem desenvolvido ações efetivas voltadas para o ensino da língua inglesa na rede estadual do Paraná. Tivemos o início do Inglês Paraná, com a contratação de uma plataforma de ensino adaptativo para o apoio ao professor e ao estudante em sala de aula, e já em 2022 tivemos números expressivos e resultados significativos, que mostram o avanço do domínio dos nossos estudantes da rede estadual, com mais de 15 milhões de atividades realizadas”, explica o diretor de Educação da Seed, Anderfabio Oliveira dos Santos.
Professora de inglês há mais de 10 anos na rede, Susane Soares diz que as aulas mudaram e sentiu avanços. “Tudo começou com a pandemia. Eu já estava mudando meu estilo de dar aula, adaptando coisas novas para os alunos e de repente ficou tudo remoto, on-line. Nesse meio tempo eu estava de licença-maternidade e não peguei o início da plataforma, mas quando voltei a primeira coisa que me falaram foi: Susane, você vai para a sala de aula e tem uma plataforma. O primeiro ano foi de adaptação e esse ano está maravilhoso, porque a aula que eu dou em sala bate com a aula da plataforma, seja no laboratório de informática ou em casa”, explica a docente do Colégio Estadual Professor Narciso Mendes, no Xaxim, em Curitiba.
A maioria de seus alunos, nascidos já em meio a dispositivos eletrônicos, gosta das aulas na plataforma, além das tradicionais aulas em sala. “Acho a ferramenta muito boa pela facilidade para fazer as lições. É fácil de logar e acessível. Gosto de escutar como se pronunciam as palavras, porque tem palavras que eu sei, mas ainda não sei falar direito”, conta João Guilherme Almeida Wernek, do 7° ano.
Seu colega de sala, Gabriel Freire Feitosa de Souza, que também entrou na rede já com a plataforma rodando, é outro que aprova a ferramenta. “É uma ótima ideia porque ajuda muito no aprendizado. Além das aulas no quadro, ainda tem essa parte da internet. A tecnologia ajuda bem mais e o aprendizado fica mais fácil. Eu gosto mais da prática de gramática, porque a dificuldade vai aumentando em cada nível e cada um tem uma característica diferente”, diz.
Ele pratica a língua em casa com os familiares. “Eu sou o mais novo e todos estão um nível acima do meu. Isso vai ajudar bastante, porque ser fluente em inglês ajuda muito no currículo”, completa.
Para este ano, o Inglês Paraná tem o reconhecimento de voz mais preciso e fez atualizações de layout, mantendo os recursos adicionais como o tradutor e o laboratório de gramática, além de cursos complementares de negócios, indústria e viagens, indicados para quem já concluiu os 16 níveis. Em 19 meses de plataforma, foram quase R$ 8 milhões investidos.
Para 2023, o Estado vai implementar uma nova plataforma, o Inglês Professor, que vai propiciar aos professores a prática da língua inglesa com nativos, com aulas ao vivo em grupo e individuais. É mais uma ação com o objetivo de trazer no médio e longo prazo a fluência para a rede estadual de ensino.
COOPERAÇÃO BRITÂNICA – Ao mesmo tempo que introduziu o Inglês Paraná, o Estado também foi um dos cinco a desenvolver, em cooperação técnica com o governo britânico, o programa UK-Brazil Skills for Prosperity (habilidades que nos levam além), iniciativa do Reino Unido com apoio das organizações Fundação Lemann, Associação Nova Escola, Instituto Reúna e British Council.
“Essa parceria teve como um de seus principais resultados o desenvolvimento por professores da nossa rede, em parceria com a Nova Escola, de um material didático para todos os estudantes do ensino fundamental anos finais, 6º ao 9º ano, da rede estadual”, explica Anderfabio.
Ao longo de 2022, foram entregues, por meio do projeto-piloto, 476 mil exemplares do material didático Xperience, livro com edições do 6º ao 9º ano, além de 9 mil cópias do livro para professores, atendendo 1.580 escolas em todo Paraná em todos os 32 Núcleos Regionais de Educação (NREs).
Além do novo material didático, o projeto ofertou um curso on-line para capacitação e uso efetivo do conteúdo, com certificação, que contou com a participação de mais de 400 professores de inglês da rede estadual, e aplicou mais de mil testes de proficiência com certificação internacional: 761 testes TOEIC Bridge para estudantes do 9º ano do fundamental e 350 TOEFL ITP para professores de língua inglesa dos anos finais do fundamental.
INTERCÂMBIO INTERNACIONAL – Dentro de parcerias e programas de apoio para o ensino de inglês, o estudo feito pelo British Council destacou como boas práticas três programas de intercâmbio de estados do Nordeste, em especial o de Pernambuco, mais antigo e de maior escala.
Na época o Paraná não promovia este tipo de ação, mas já estava formulando o Ganhando o Mundo, programa de intercâmbio internacional que em 2021 selecionou a primeira turma de 100 estudantes para passar um semestre letivo no Canadá. A pandemia adiou a viagem para o começo de 2022 e, naquele mesmo ano, no segundo semestre, outros 100 estudantes também foram à Nova Zelândia, na segunda edição do programa. Nas palavras da totalidade dos intercambistas, essa foi “a melhor experiência” das suas vidas.
A aprovação e boa avaliação das edições iniciais fez com que a Seed-PR ampliasse o programa. Em sua terceira edição, o Ganhado o Mundo cresceu e vai levar mil alunos – pelo menos um de cada município – para cinco países de língua inglesa no começo de 2024: Austrália, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e Nova Zelândia. As inscrições estão abertas e vão até 31 de maio.
Também está em andamento, no momento em fase de seleção, o Ganhando o Mundo Professor, que vai levar 96 professores de inglês da rede estadual para até quatro semanas de estudos em universidades do Canadá (72) e Finlândia (24), abrindo oportunidades também aos docentes.
Quem fez um intercâmbio nesses moldes foi a própria professora Susane, em 2019, quando foi para Delaware (EUA), selecionada pelo PDPI (Programa de Desenvolvimento Profissional de Professores de Língua Inglesa nos EUA), financiado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), vinculada ao Ministério da Educação, em parceria com a Comissão Fulbright Brasil, ligada ao governo dos EUA. Neste ano, 42 professores da rede também participaram do programa.
“Foi uma experiência maravilhosa. Pude conviver com nativos da língua inglesa, professores de outros países, e eu trouxe muita coisa para os alunos, de como trabalhar o inglês”, conta.
Segundo Susane, várias questões são trabalhalhadas no Formadores em Ação, programa de formação continuada ofertado pela Secretaria da Educação aos professores da rede públical. “Agora que temos o Ganhando o Mundo Professor, eu digo que vale muito a pena, o intercâmbio ajuda muito, abre muito nossa visão de mundo. Aos pouquinhos a gente melhora e vamos acabar com essa teoria de que só se aprende inglês em escola particular ou fazendo cursinho. A gente aprende na escola pública, sim, com certeza”, arremata.
SÉRIE – “Paraná, o Brasil que dá certo” é uma série de reportagens da Agência Estadual de Notícias. São apresentadas iniciativas da administração pública estadual que são referência para o Brasil em suas áreas.