Oficinas semanais ajudam pacientes a utilizar a audição, tato, paladar e olfato para assimilar os ambientes e recuperar a autoestima

Foto: Welyton Manoel/PMFI.


Aos 58 anos, por complicações de uma doença, Telemarcos Ribeiro foi obrigado a encontrar um novo formato de enxergar o mundo. Cego de ambos os olhos há cerca de um ano, teve os hábitos da rotina transformados em um desafio diário de adaptação. 

“Tudo ficou difícil de fazer, não tinha mais a destreza de antes e algo precisava mudar. Foram meses terríveis que passamos”, relembra. Contudo, a dificuldade tornou-se esperança quando passou a frequentar o grupo de reabilitação visual do Centro Especializado em Reabilitação (CER IV), equipamento da Secretaria Municipal de Saúde.

Desde então, todas as quintas-feiras Telemarcos se encontra com uma equipe de profissionais que o estimulam a observar o ambiente e descobrir a força de novos sons, toques, gostos e aromas. 

“Encontrar essas oficinas foi uma benção de Deus na minha vida. As profissionais têm um carinho por nós que é muito grande, são muito atenciosas e fazem de tudo para que eu volte a me sentir bem. Quando saio, fico até ansioso para poder voltar e aprender mais”, contou. 

O simples se torna grande

A metodologia das quatro profissionais responsáveis por coordenar o grupo passa diretamente pela assimilação da nova situação em que eles vivem e dá força para continuarem em frente, com uma vida ativa. Cada passo é acompanhado pela psicóloga Juliana Prado, a fisioterapeuta Anna Marina, e as terapeutas ocupacionais Adriele Zappa e Thais dos Santos. 

A equipe multidisciplinar trabalha em conjunto com todo o corpo de servidores do CER IV, pois envolve também a melhoria da autoestima, relacionamento com os familiares e readaptação da mobilidade.

“Não é uma situação comum, claro, por esse motivo a reabilitação é tão importante. Ela mostra que a vida não acabou e pode ser modificada, então toda a ajuda para encontrar esse novo rumo torna-se necessária”, explicou a psicóloga Juliana. 

Para fazer isso, são usados jogos lúdicos e simples, como criar formas com blocos de montar ou cruzar barbantes. É assim que Márcia Klein, 55, encontra ânimo semanal para lidar com a baixa visão e o alto grau de dificuldade para enxergar. 

“Eu andava muito estressada e ansiosa dentro de casa, mas quando comecei a participar das aulas em dezembro, senti um alívio muito grande. Somos muito bem tratados aqui sempre que viemos. Gosto porque consigo repetir alguns exercícios em casa, o que me ajuda bastante também”, disse Márcia. 

Grupo entrosado

O grupo também visa aproximar os integrantes para que eles troquem experiências, ouçam relatos de pessoas que já vivenciaram a mesma fase pela qual estão passando e sintam-se apoiados. 

“Eles não estão sozinhos nessa e buscamos trazer pessoas para rodas de conversa e compartilhamento. Assim os pacientes podem lidar melhor com esse estágio e descobrir o que é possível fazer, independentemente da condição”, afirmou Thais. 

Outro aspecto necessário é incentivar a independência nas ações práticas, conforme detalha Adriele. “Estamos aqui para ajudá-los sempre, mas é importante permitir que os próprios pacientes encontrem a melhor forma de fazer o que é preciso, como se locomover pelo ambiente, separar peças, entre outras coisas. Cada um desenvolve um método, que é uma evolução interessante de notar”. 

Ampliação das atividades

De acordo com a equipe, a intenção é trabalhar com turmas de até cinco pacientes. O número vai permitir, além de um atendimento mais individualizado, a possibilidade de acompanhar também as famílias e obter resultados de forma mais ampla. 

“O que é feito aqui tem um potencial transformador dentro das diversas atividades já realizadas no CER IV. Um serviço de referência e cada vez mais completo irá ajudar muitos pacientes”, frisou Caroline Santana, gerente de serviços técnicos do CER IV.

“Esse trabalho desenvolvido pelo CER IV com as pessoas que possuem baixa visão ou são cegas é admirável. As equipes são realmente dedicadas a fazer o melhor pelos pacientes e promover maior qualidade de vida. Estamos trabalhando para que, em toda a rede municipal de saúde, o atendimento seja desta forma, priorizando sempre a humanização”, afirma a secretária municipal de Saúde, Rosa Maria Jerônymo.