Na semana do aniversário de 108 anos da cidade, o projeto de urbanização da maior ocupação da cidade – o Bubas – foi apresentado à comunidade pela Prefeitura
Foto: Christian Rizzi/PMFI.
“Como é bom ter um lugar igual a todo mundo!”, como disse Marisa dos Santos; ou, ainda, “é o sonho de todo mundo ter um lugar digno para morar”, na fala de Carlos José. Os dois moradores da Ocupação Bubas se referem a “todo mundo”, mas só aqueles que vivem ali entendem bem o que significa a proposta de urbanização da área. Melhor infraestrutura, regularização do fornecimento de água, luz e rede de esgoto, serviços tão esperados, finalmente vão se tornar realidade.
O projeto elaborado pela Prefeitura de Foz do Iguaçu foi apresentado na noite de quarta-feira (08) à comunidade do Bubas. A entrega desse “pacote” de melhorias da maior ocupação da cidade representa um presente para Foz, às vésperas do aniversário de 108 anos, completados nesta sexta (10).
“É o melhor presente de aniversário da cidade neste ano. E mesmo com a grande expectativa e até ansiedade da minha parte, esse projeto requer a participação e o respeito às decisões dos moradores do Bubas”, disse o prefeito Chico Brasileiro.
“Para alguns, esse processo pode até parecer moroso, mas num esforço de todos os envolvidos, estamos desatando um nó histórico, de mais de nove anos, e vamos garantir a dignidade, incluindo todas famílias aos serviços básicos de cidadania”, completou Chico Brasileiro.
O defensor público João Victor Rozatti Longhi, que acompanhou a reunião, disse que o Bubas entrou numa nova fase positiva em que o Município e o Estado poderão instalar os equipamentos públicos “e prover aos moradores os serviços essenciais como a coleta de lixo e entrada de uma ambulância ” para atender a comunidade.
“A Defensoria Pública está acompanhando esse processo e agora com expertise dos técnicos no assunto, teremos os desdobramentos e as adaptações necessárias, do ponto de vista do espaço físico e urbanístico, para realocar o mínimo de pessoas e dar dignidade ao povo do Bubas”, completou.
Encaminhamentos
A partir da aprovação dos moradores, a proposta será encaminhada à Copel e à Sanepar para execução dos serviços de regularização da água, esgoto e eletricidade – os recursos já foram garantidos pelo governo estadual.
No Centro de Convivência Francisco Bubas, centenas de moradores acompanharam a apresentação de representantes da prefeitura de como será a urbanização da área: quadra a quadra, foram mostradas as necessidades de intervenções e as melhorias que serão feitas.
Por exemplo, as ruas internas deverão ter 9 metros de largura, sendo 1,5 metro de calçada, de cada lado, e 6 metros de asfalto. Já as ruas principais, que dão acesso a outros bairros, terão 12 metros. O plano prevê ainda obras de drenagem e construção de meio-fios, que serão licitadas quando a proposta estiver aprovada pela comunidade.
Também foi mostrado aos moradores que, para fazer o arruamento, será necessário realocar cerca de 27 famílias. “Já existe um plano para que essas famílias sejam realocadas ou para um local próximo ao Bubas, por meio do aluguel social, ou ainda em casas que serão construídas nas proximidades, ao final do processo de urbanização”, disse a diretora superintendente do Fozhabita, Elaine Anderle.
A mesma situação ocorre com 64 famílias que ocupam atualmente uma área de preservação permanente. “Não é possível, por lei, fazer a regularização desta área. Mas ninguém ficará desabrigado”, reforçou Elaine.
Após a apresentação, os técnicos da prefeitura – das secretarias de Obras, Planejamento, Direitos Humanos e Relações com a Comunidade, e do Fozhabita – ficaram à disposição dos moradores para esclarecer dúvidas sobre a proposta. Elaine ressaltou que o canal de diálogo da prefeitura com a comunidade se manterá aberto. “Estaremos sempre dispostos a ouvir e prestar os esclarecimentos necessários. Queremos que todo o processo seja feito da forma mais transparente possível e em conjunto com os moradores do Bubas”, complementou.
O vice-presidente da Associação de Moradores do Bubas, Ronaldo Vargas, comentou que o projeto de urbanização da área é “uma vitória”. “É uma coisa que todo mundo esperava, e está acontecendo, e acontecendo rápido”. Sobre o processo, ele disse que “está bem transparente. Estão fazendo o máximo para explicar como que vão fazer, o que acham, tudo isso”.
Cidadania
Marisa dos Santos mora com os filhos no Bubas e contou que está ali desde o começo da ocupação. “A gente começou com lona e hoje construiu a casinha da gente. Estamos desde o começo batalhando para conquistar o lugar da gente”. Ela trabalha como auxiliar de restaurante em São Miguel do Iguaçu durante todo o dia e só volta para casa à noite, para cuidar dos filhos. “Não tenho condições de pagar aluguel. Então isso significa muito para nós”, diz, sobre a urbanização da área.
Carlos José dos Santos trabalha na área de construção civil e, há oito anos, devido a dificuldades de bancar o aluguel, foi para o Bubas, onde construiu uma casa. “Há muito tempo a gente queria uma melhora, uma rua decente, uma água decente. Às vezes chegava em casa, à noite, e não tinha água. Com esse projeto, a gente fica mais do que feliz”.
Central
A Câmara Técnica, composta por representantes de órgãos públicos, entidades e lideranças comunitárias, vai disponibilizar um número de WhatsApp para ser usado como central de atendimento e responder eventuais dúvidas sobre os projetos e todo processo de urbanização da área.
“Solicitamos o uso de um número de telefone para que os moradores do Bubas tenham um canal de comunicação direta com a Câmara Técnica e dessa forma todos poderão ter suas dúvidas respondidas por técnicos que conhecem o projeto que saberão orientar os moradores sobre qualquer dúvida. O número de telefone será anunciado em breve”, disse o diretor de Drenagem e Mobilidade Urbana, Ivan Lincon Oeda.
Sobre o processo
Cerca de 1,8 mil famílias – 10 mil pessoas – moram atualmente no Bubas, segundo levantamento feito pela própria comunidade.
Em abril deste ano, a prefeitura recebeu a autorização, a partir de decisão judicial, para fazer as intervenções necessárias para regularizar os serviços de água, esgoto e energia elétrica na área.
A partir de então, foi montado o comitê para debater as obras, formado por técnicos das secretarias municipais e do Fozhabita, representantes da Copel e Sanepar, e lideranças do Bubas.