O Governo do Estado, por meio da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), formalizou nesta quinta-feira (20), no Palácio Iguaçu, um acordo de cooperação técnica com a empresa Kyowa Kako Co. Ltd., referência em processos de tratamento de resíduos orgânicos no Japão, para tratar o lodo de esgoto de Curitiba e Região Metropolitana com uma tecnologia mais sustentável. O projeto-piloto terá duração de 24 meses.
A parceria é mais um resultado da missão comercial internacional do Paraná para o Japão e Coreia do Sul, liderada em março deste ano pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior, com o objetivo de atrair investimentos ao Estado e abrir mercados para a carne.
O vice-governador Darci Piana, que esteve presente na assinatura do acordo de cooperação, destacou que missões como esta são importantes para projetar o Paraná internacionalmente e atrair cada vez mais novos negócios.
“Essa missão colocou o Paraná no radar dos mercados japonês e coreano não só para ampliação da venda dos nossos produtos, mas também para a realização de projetos que tragam benefícios em diversas áreas”, disse. “A parceria com a Kyowa Kako é um exemplo disso. É o início de um processo muito grande que pode até se expandir nacionalmente, partindo aqui do Paraná”.
Em um primeiro momento, não haverá repasse de recursos entre as partes. Com o acordo, a Sanepar cede a estrutura, enquanto a empresa japonesa atua com a tecnologia para o desenvolvimento de uma pesquisa conjunta voltada à avaliação do tratamento de resíduos orgânicos a partir da compostagem aeróbica com bactérias hipertermófilas. O lodo de esgoto da Estação de Tratamento Atuba Sul, em Curitiba, local de teste do projeto, será utilizado como resíduo de processamento para as avaliações.
O diretor-geral de Desenvolvimento de Negócios e membro do Conselho Administrativo do grupo japonês, Yasuhiro Matsuzawa, disse que o objetivo é desenvolver uma parceria que possa ser referência nacional. “Esperamos que a nossa tecnologia ajude o Paraná a colocar em prática os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), principalmente diminuindo os gases de efeito estufa, tornando esse tratamento de esgoto em um modelo mais sustentável para o Brasil e o mundo”, afirmou.
Este processo promove a decomposição biológica acelerada de resíduos orgânicos em condições controladas, utilizando microrganismos ativadores especialmente desenvolvidos para tal função, alcançando elevados patamares de temperatura e reduzindo significativamente o tempo de tratamento.
De acordo com o diretor-presidente da Sanepar, Claudio Stabile, trata-se de uma solução simples, mas que traz resultados significativos para o tratamento de esgoto do Estado. “É uma política sustentável baseada em produtos da natureza. Isso quebra o mito de que precisamos de altas tecnologias e investimentos gigantescos para isso. Muitas vezes, um fungo ou bactéria já vem fazendo isso. É isso que estamos fazendo com essa parceria”, explicou.
A Kyowa Kako Co. Ltd. tem 65 anos de experiência em serviços ambientais no Japão, como tratamento de efluentes, chorume de aterros sanitários, além de tratamento de resíduos orgânicos e na agricultura. É a primeira vez que a empresa atua nesse tipo de atividade no Brasil.
“Fizemos esse projeto-piloto com a Sanepar para validar a tecnologia que usamos no Japão, que não utiliza tantos eletrônicos, mas um controle de ambiente com organismos que são essenciais para esse tipo de tratamento”, explica Kiyonori Nakamura, gerente da Divisão de Negócios da empresa. “Tínhamos essa conexão com o Paraná e achamos que seria interessante colaborar com questões ambientais aqui, principalmente pela Sanepar ser líder em inovação e tecnologia em saneamento no Brasil”.
DESENVOLVIMENTO COMERCIAL – A missão internacional para os países asiáticos foi organizada pela Invest Paraná, agência de captação de negócios do Governo, vinculada à Secretaria estadual de Indústria, Comércio e Serviços.
Eduardo Bekin, diretor-presidente da Invest, esteve em reunião no Japão com representantes da Kyowa Kako e afirmou que essas iniciativas são importantes justamente para atrair parcerias como essa. Segundo ele, a cooperação com a empresa japonesa vai ao encontro das políticas do Estado de atrair cada vez mais parcerias internacionais.
“O Estado quer descobrir o que outras companhias estão fazendo e incorporar isso no nosso modelo. É a forma que o governo vem se apresentando para o mercado. Nada mais significativo que voltarmos do Japão e firmarmos uma parceria com uma das maiores empresas que trata resíduos sólidos. Vivemos num mundo globalizado, aberto e conectado. Temos que conectar o Estado com o que há de bom em outras regiões”, afirmou.
Stabile reforça que, em um primeiro momento, trata-se apenas de um piloto, no entanto, há uma intenção tanto do Estado como da empresa de, futuramente, estabelecer uma relação comercial.
“Os aspectos financeiros devem acontecer no futuro. Agora é o momento de pesquisa e análises do material. Depois é possível que seja feita uma parceria comercial e empresarial”, disse o diretor-presidente. “Vamos validar a tecnologia e daqui um tempo pretendemos montar um modelo de negócio economicamente e tecnicamente viável para tratar o lodo de esgoto da Sanepar”, endossou Nakamura.
AGRICULTURA SUSTENTÁVEL – A empresa japonesa conta com 42 plantas de compostagem no Japão e uma nas Filipinas, fazendo a compostagem de qualquer resíduo de origem orgânica, inclusive na indústria agrícola, gerando um composto com propriedades para ser um fertilizante orgânico de alta qualidade.
No processo desenvolvido pela empresa, o composto é peneirado, selecionado e enviado a agricultores. A produção anual da planta localizada em Mashiko, Tochigi, por exemplo, é de 50 toneladas de composto e, devido à alta demanda pelos agricultores, todo o estoque é usado.
Darci Piana destacou que ações como essa também podem trazer economias significativas para produtores agrícolas. “O Paraná é um grande produtor de insumos agrícolas. Trazer essa tecnologia para cá ajudaria nas despesas de compras de adubos para os agricultores. Resolveríamos problemas de meio ambiente e transformaríamos isso em adubo para a lavoura, ganhando dos dois lados”, afirmou o vice-governador. “Precisamos aumentar nossa produtividade com aquilo que a gente tem. A Sanepar está nesse caminho”.
ODS – O projeto contempla ao menos seis metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), agenda adotada pelo Governo do Estado para tornar o Paraná cada vez mais sustentável. São eles: fome zero e agricultura sustentável; água potável e saneamento; indústria, inovação e infraestrutura; cidades e comunidades sustentáveis; consumo e produção responsáveis; ação contra a mudança global do clima; vida terrestre e parcerias e meios de implementação.
PRESENÇAS – Participaram da reunião o diretores de Operações da Sanepar, Sérgio Wippel; de Relações Internacionais e Institucionais da Invest Paraná, Giancarlo Rocco; de Economia Sustentável da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, Gabriel Schühli; o chefe de gabinete da Secretaria de Planejamento, Rodrigo Pina; o chefe de Divisão da Sedest, Reginaldo Joaquim de Souza; o gerente de Pesquisa e Inovação da Sanepar, Gustavo Possetti; o diretor-geral de Desenvolvimento de Negócios e membro do Conselho Administrativo, Yasuhiro Matsuzawa; e o consultor da Kyowa Kako no Brasil, Milton Kentaro Nakamura.
Foto: Roberto Dziura Jr/AEN