Veículos que denunciaram suposta prática de rachadinha na Câmara Municipal relatam tentativa de intimidação por parte do vereador
De acordo com a diretora geral do Jornal Primeira Linha, Leticia Mezzomo, tudo começou após a publicação da reportagem “Vereador propõe desconto no IPTU para quem adotar cão”. Noticiado pelo veículo no dia 26 de agosto passado, a matéria jornalística teria incomodado Galhardo, autor do projeto na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.
“Essa simples reportagem foi o suficiente para causar revolta no vereador Galhardo, que não poupou críticas ao nosso jornal. Até aí, tudo certo. Não há problemas em sermos criticados, acontece que as críticas do parlamentar foram aumentando, de tal forma que chegamos onde estamos hoje”, informa a diretora do jornal.
Letícia afirma que a publicação de nova notícia sobre a atuação legislativa do parlamentar, sob título “Vereador propõe IPTU Verde em Foz”, no dia 24 de fevereiro, foi motivo para mais uma vez Galhardo não poupar o veículo de duras críticas.
“Logo que a matéria foi publicada o vereador usou suas redes sociais para atacar nosso jornal, o que chamou atenção foi que ele utilizou do seu cargo de vereador para acessar dados sobre despesas da prefeitura com publicidade institucional, e, de forma baixa, fez acusações contra o Jornal Primeira Linha”, afirma.
O Vereador procurou a diretora através do aplicativo de mensagens para relatar seu descontentamento com as referidas matérias e chegou a dizer: “
mas esse dinheiro vou lutar para que vcs não recebam mais. Fui eleito pra isso”. No início da conversa o vereador diz: “Luta inglória aceito seu desafio vamos ver quem ganha e quem perde”.
“Insatisfeito com nosso trabalho, Galhardo passou a compartilhar que nós recebemos dinheiro público da prefeitura, como se prestar serviço de publicidade fosse algum tipo de crime, incitando seus seguidores contra o Jornal Primeira Linha. Isso começou com a gente, mas logo se estendeu para outros veículos”.
A afirmação da jornalista é comprovada ao serem observadas as postagens do vereador em seu canal no Facebook. Justamente após veículos repercutirem a denúncia de que haveria a suposta prática de rachadinha dentro do gabinete do vereador Galhardo, publicada com exclusividade pelo jornal Primeira Linha na semana passada, os jornais Impacto Paraná, de Curitiba e Grupo Mundial de Comunicação, passaram a ser alvos do parlamentar suspeito de desviar salários de assessores.
“Fomos surpreendidos com essa postagem do vereador. Nosso jornal recebeu mídia de campanha da prefeitura em 2021, e não temos nenhum jornalista que esteja nesta lista milionária que o parlamentar acusa de forma irresponsável. Isto é calúnia e difamação. Ele responderá por isso na Justiça”, afirma Luiz Marcelo Fedeger, diretor do Jornal Impacto Paraná.
Por sua vez, o Grupo Mundial de Comunicação, único veículo de Foz do Iguaçu a repercutir o caso da rachadinha na Câmara Municipal, se manifestou por nota ao ver que também passou a ser alvo das críticas de Galhardo em seu canal no Facebook.
“O jornalismo presta um serviço essencial para a população quando pautado nos princípios e valores da verdade, do exercício dialético e do processo civilizacional que construiu a sociedade ocidental, por este motivo, é que não nos esquivamos de publicar fatos mesmo quando são nocivos àqueles que defendem, hipoteticamente, os mesmos princípios e valores. Especificamente sobre publicações que questionam pequenas verbas publicitárias legalmente recebidas, não nos posicionaremos, visto que não existe ilícito”.
Levantamento feito pelo Primeira Linha junto à Câmara Municipal informa que desde o início da atual Legislatura o vereador Galhardo solicitou aproximadamente 100 requerimentos à Prefeitura para saber a forma de pagamento de despesas com publicidade.
“O que não representa problema algum, aliás, é papel do vereador fiscalizar o uso de dinheiro público. Ele tem o relatório completo em mãos. Por que seleciona somente quem noticia fatos que o incomodam? O problema é usar dessas informações para tentar pressionar e intimidar a imprensa como se fossemos criminosos por recebermos por nosso trabalho.”, critica Letícia Mezzomo.
A diretora do Jornal Primeira Linha sustenta que o vereador tenta criminalizar a imprensa para tirar o foco das suspeitas que pairam sobre seu mandato.
“Ele quer criminalizar o trabalho do jornalismo sério e independente. Quem precisa prestar esclarecimentos é ele, que está envolvido em fortes indícios de corrupção e desvio de dinheiro. Seguiremos nosso trabalho como fazemos há 33 anos em Foz do Iguaçu”, finaliza.
Por meio de sua assessoria de comunicação, a Prefeitura de Foz informou que os pagamentos pelo serviço de publicidade institucional são previstos em lei e em total conformidade com as normas vigentes. Além disso, a responsabilidade pelos pagamentos é da agência contratada através de licitação, sem ingerência do Poder Executivo.
Procurado, o vereador Galhardo não retornou ao pedido de entrevista para explicar por qual motivo compartilha valores de despesas com publicidade apenas dos jornais que denunciaram a possível prática de rachadinha em seu gabinete.
O CASO DA RACHADINHA
Contratado pelo vereador Galhardo entre janeiro a junho de 2021, Felipe Menger afirma que a prática seria comum “dentro de muitos gabinetes”
Ouça o áudio
Encaminhada de forma anônima para redação do Jornal Primeira Linha, a gravação de uma conversa entre o jornalista Luciano Alves com o especialista em marketing, Felipe Menger, indica que o desvio de salários pagos aos assessores do Legislativo seria uma prática comum nacidade.
“Fizeram toda essa maracutaia, do vereador ganhar meio que ‘pareio’ com assessor, justamente pra pegar do assessor, entendeu? Só que rachadinha é crime. Não tem conversa, entendeu? É corrupção”, acusa Felipe ao revelar sua experiência dentro da Casa de Leis.
Com pouco mais de vinte anos, Felipe Menger chegou à Câmara Municipal em agosto de 2020, para exercer a função de “Assessor Parlamentar PL5”. A reportagem não conseguiu apurar até o momento o nome do vereador responsável por sua nomeação. Entretanto, de maneira paralela ao cargo na Câmara, Felipe atuou também como coordenador da campanha digital do então candidato Galhardo. Após a eleição de Galhardo, Felipe conseguiu se manter nafunção comissionada PL5 até junho de 2021.
Durante a conversa com o jornalista Luciano Alves, Felipe compartilha que em razão de se negar a manter o pagamento dos repasses para Galhardo, terminou por ser exonerado. “Eu vivia cobrando ele. ‘Galhardo, você não precisa disso, cara (…)’. Mas ele sabia, na cabeça dele, até hoje acha que eu era um risco, entendeu?”, afirmou.
Em outro trecho do áudio, Felipe diz que após deixar a assessoria parlamentar, Galhardo convidou sua companheira para exercer o mesmo cargo. “Minha esposa que entrou no meu lugar lá, ela também mexe com marketing (…). Aí ela entrou e ficou um mês”.
A afirmação de que a esposa de Felipe teria sido nomeada por Galhardo e permanecido pelo período de um mês foi confirmada pelo Jornal Primeira Linha após nova consulta ao Portal da Transparência. Juntos, o casal recebeu R$ 95.555,47 em dez meses de trabalho como assessores parlamentares.
Ao demonstrar forte insatisfação com comportamento do vereador, Felipe afirma para Luciano que sua vida teria melhorado após romper relações com o parlamentar. “Deus prepara tudo do jeito que tem que ser. Porque quando o Galhardo saiu da minha vida, foi a melhor coisa que me aconteceu. Cara, eu me sentia mal por estar junto com ele”.
Para verificar a autenticidade do áudio obtido de forma anônima, a reportagem entrou em contato com Felipe Menger por meio do aplicativo WhatsApp. Após ser informado sobre o teor da demanda, o ex-assessor confirmou a prática de rachadinha na Câmara Municipal. “Minha experiência dentro da Câmara foi curta, no curto período tudo que tem de errado pra se fazer era feito dentro de muitos gabinetes… não é algo exclusividade de vereador A ou B… mas claro que por se tratar de um mandato do qual eu estava envolvido ficou mais escancarado na minha percepção”, respondeu o ex-assessor ao destacar sua atuação junto ao vereador Galhardo.
À pedido da reportagem, Felipe chegou a confirmar que iria conceder entrevista para detalhar valores supostamente devolvidos durante o período de duração da “rachadinha”. Entretanto, não compareceu conforme o combinado e também não respondeu mais às mensagens.
Procurada, a Câmara Municipal, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que “não se pronunciará sobre o assunto neste momento”. Já o vereador Galhardo não atendeu as ligações e tampouco retornou às mensagens.
Com: Jornal Primeira Linha